segunda-feira, 24 de maio de 2010

Campânula

Entre uma paisagem de Lisboa demasiado clara
e uma tentativa de retrato fica um grito pela natureza
e um jardim de mulheres em pose fotográfica.
Ainda restam uma conversa de máscaras lívidas
num fundo escuro e difuso e uma velhinha
lendo o jornal junto à janela ensolarada e ao cão sentado a seus pés.
Ainda um jogo geométrico de cores, um jornal antigo,
um conto, três retratos a carvão.
Assim o espaço que defronto onde ainda persigo,
 incansavelmente, o tempo que falta .
Um diálogo de mãos e olhos, saberes e ignorâncias,
 sorrisos e choros, ternuras e ódios, difícil mas íntimo
e tal como tudo o resto, sempre inacabado.

domingo, 23 de maio de 2010

Esta enorme alegria

planta.JPG (352×400)

de poder sentir crescer as plantas...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

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ceu.jpg (500×375)

Embora cinzento o tempo
sinto as núvens brancas.
Pressinto, mesmo, alguns verdes...
É bom pressentir a cor verde nas núvens brancas;
é bom pressentir um leve sorriso no cinzento.

Diziam-me ontem : Que bom !
O sentir que a boca se entreabre e existe luz...
Que bom, digo eu !
Que posso adormecer com um sorriso nos lábios...


sábado, 1 de maio de 2010

União


(Recordação da Feira Franca)

Eram grupos
pequenos magotes de gente       falando
uns com os outros discutindo
a palavra como arma
a palavra     o gesto     a voz     o timbre     a altura
a palavra     a arma de ontem     hoje     amanhã     futura
a minha e a tua
a minha vai vestida     a minha vai nua
e a tua ?

Eram pequenos magotes de gente
aos centos na grande praça     no mercado
da palavra e das ideias
a falar livres os pensamentos
tu cá tu lá
a palavra precisa e a imprecisa
o consciente e o inconsciente
o certo e o incerto
mas decerto ...
era o campo mais livre     o mercado mais franco
o renascer mais belo
da existência talhada a cutelo

e condenou-se a fábula :
o rato tinha parido uma montanha ...

 Miguel Gomes Coelho
De coração na mão - Ed. Autor - 1978