domingo, 22 de julho de 2012

Nuno Mata, cantador de fado


Uma fotografia que vale por um agradecimento.
O Nuno estreou, ontem, com a música do Fado Bailado, o canto do "Fado Cinzento".
http://joaoolhosnomar.blogspot.pt/2012/04/fado-cinzento.html

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Releitura justificada

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(...e enquanto uns de mãos cheias gozavam a prerrogativa de um horizonte aberto
outros sobreviviam em cada minuto vivido .)


O grito retumbou como um rasgão de denúncia.
Correram todos à rua levando
a única arma que os distinguia
o cheiro a sal a cimento a aço
a terra apodrecida
o olhar vítreo no horizonte limitado
mas firme no horizonte sempre reinventado.
Era a Liberdade
a revolução exangue
a espada paladina desembainhada
por sobre as cabeças gritando
que para sempre se haviam fundido
as grades os grilhões e as cadeias
não seriam mais colmeias de gente desesperada.
Era a Liberdade
de se ser homem
ser livre no pensamento
olhar o pão e dizer MEU
porque ganho sem opressão.
Era a Liberdade
de dizer suas as suas mãos
e no delinear de um gesto
um símbolo supremo e simples
ficasse suspenso e dissesse
FUTURO.
Era a Liberdade
de provocar na memória o esquecimento
e de mãos em concha receber
e molhar os olhos de água pura
de um poço subterrâneo de novo aberto.
Era Liberdade
de poder correr ao campo sozinho
e gritar a opressão e a chacina
sem olhar de soslaio as árvores e as plantas
sem desconfiar do próprio ribeiro limpo.
Era a Liberdade
de poder escrever e denunciar
os versos de dor tão idealizados
sem recorrer ao laboratório da mente
e escolher palavras cobertas.
Era a Liberdade
de poder dizer País e Pátria amada
de ser livre e dar aos outros
à luz do dia e da razão
a mão tão franca
outras vezes dissimulada.
Era a Liberdade
e o fim de todas as cadeias
de toda a opressão
de todas as ideias
impostas sobrepostas.
Era a Liberdade !
E na rua
de mãos nuas
o Povo gritava
" Água pura ! Água pura ! "

Natal no Darfour

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É noite e as estrelas estão lá em cima.
Uma criança nasce com a morte já estampada nas faces,
como a outra.
Só que não durará trinta e três anos nem
trinta e três dias nem
trinta e três horas;
talvez trinta e três minutos ou
trinta e três segundos ou talvez já nasça morta.

É assim o Natal no Darfour
E as mesmas estrelas estão lá em cima.

(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

Conchas



(Imagem:Acrílico s/tela)

Orgulho

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Plantámos três árvores.
E que belas são, que força existe nos seus ramos,
que seiva rica lhes corre nas entranhas.

(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

Dia feliz

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Hoje estou contente.
Os lábios são de semente
e o futuro cheira a jasmim.


(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A linha do horizonte

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Mantens-te a querer ser um náufrago no seco leito de um rio.
O teu olhar diz-me que renunciaste.
O teu silêncio diz-me que te resignaste.
O teu corpo diz-me que desististe.
Retiraste, mesmo, a linha ao horizonte.

(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

Uma experiência inesquecível



(Imagem: Acrilico s/tela prensada)

Duas linhas


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Por muito que nos afastemos
a nossa sombra andará sempre de mão dada.



(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

Poema contigo

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É bom saber que estás por perto
embora das tuas mãos não brotem gestos solares
nem da tua boca surjam rumores de mel.

Mas é bom olhar e sentir que estás
porque a tua ausência seria a amargura nos dias
e as noites um túnel de insónia.

Por mais que te sinta transparente
não posso esquecer o tempo
em que dávamos de comer à ave dos sonhos.

E que da nossa árvore brotou seiva,
que nasceram risos e cairam lágrimas
e se levantaram manhãs que nos justificaram.

Por mais que pressinta o desentrelaçar dos nossos ramos
eu sei que seguiremos sempre resguardando os frutos
até que a árvore se consuma.

(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Entre o sonho e a escrita




(Imagem: Acrílico s/tela)

A base

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Sempre vos ensinei a cantar as raizes.
Aquelas do peito
e as das ervas.




(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

terça-feira, 3 de julho de 2012

Ainda sobre a fome


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No espaço de três segundos
morrem de fome duas crianças.

Desfalecem silenciosamente;
já nem forças para sofrer
e morrem lentamente.

E eu sei
e sinto uma profunda vergonha
e não consigo dormir
mesmo de olhos fechados.

(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

Viagem inimaginável-V



(Imagem: Acrílico s/tela)

Natal

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Um novo fruto nasceu num ramo da árvore.
As raizes rejubilaram de alegria
e o poeta, ao espelho, viu
    as lágrimas escorrerem  dos seus olhos sorridentes.



(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

A Força


(Imagem: Pastel s/papel)

Viagem inimaginável-IV



(Imagem:Acrílico s/tela)

Renascer

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Abriram-se-me nos olhos duas manhãs
que agora sinto pena do anoitecer.



(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Viagem inimaginável-III




(Imagem: Acrílico s/tela)

Haiti

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Não te consigo falar.
As imagens não se precipitam sobre a tua superfície branca.
Apenas me perseguem os quatro cavalos que romperam das entranhas da terra..
Nada mais senão os quatro cavalos. Apocalipse !
Peço aos olhos que se virem para dentro e procurem ainda
algum pequeno regato .
Mas não, já estou seco.
Saltam o vermelho, o negro e o baio,
o branco segue-os de perto...
E os dedos não se mexem
e a mão não tem coragem
e do cérebro apenas o lamento.

Janeiro,2010

(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

Viagem inimaginável-II

(Imagem: Acrílico s/tela)

Revelação

Porque da árvore das horas já vão caindo as folhas
exorto-vos,
revelando as imagens que aos meus olhos surgem,
a só esperar o amanhecer.

O amanhã será dos frutos das minhas sementes
e dos frutos de todas as outras sementes
que sabem que hão-de gerar raízes.
O tempo será ciclicamente renovado
por mãos que se estendem com dedos de gavinhas
pelos homens e mulheres, árvores de fundas raízes,
que abrem os braços como os ramos
num abraço onde cabe o universo
e vivem em liberdade e – sobretudo - em igualdade,
sem angústias do passado nem da morte inevitável,
que se desprendem e rebentam com os casulos do tempo
numa metamorfose encadeada onde sempre
o fim será o início.

Será o sonho revelado nos meus olhos.
O campo lavrado para a sementeira,
terra revolta com as mãos abertas,
de braços cheios, sem jugo.
As mesmas mãos e os mesmos braços
dos mesmos homens-árvore
e das mesmas mulheres-árvore
e sempre a mesma terra-mãe
onde hão-de pousar as minhas cinzas lançadas ao vento;
porque eu quero fazer parte dessa terra de redenção
e ter a certeza, já, de que terá valido a pena e
que os meus olhos não me enganaram.


(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)

Viagem inimaginável



(Imagem:Acrilico s/tela)

Em memória do meu amigo Guillaume

Elegia

A ténue recordação de tantos rumos
ao olhar este mar
o último dos muitos navegados
deambulando entre o desespero e a esperança.

Por que vagas se ficaram as ilusões
de novas enseadas e novos cais ?
Por que terras nunca aportadas
vaguearam os sonhos deste marinheiro ?

Esburgo o que resta de tanta viagem :
meia dúzia de mãos abertas
algum porto de aconchego e pouco mais.

(Olho do alto da gávea...)

Não acredito que exista algum abrigo
para além desta água.
O derradeiro dos mares sorve-me
e acompanha-me num préstito
de que desconheço a duração.

Aqui ou pouco além tudo acaba,
as imagens desvanecem-se, nada mais é urgente.
Estas águas, como o tempo, apenas vogam
ao sabor de um intento inexorável que as dissipam.


(Recuperado do Blogue Vermelho Cor de Alface)