João Olhos no Mar
Navegando o que resta deste oceano
sábado, 1 de outubro de 2022
quarta-feira, 29 de abril de 2020
quarta-feira, 22 de abril de 2020
domingo, 5 de abril de 2020
domingo, 22 de março de 2020
Acabei de escrever sobre um dilema...
e utilizei
muitas cores...
Lá por ser
sombrio não quer dizer que não tenha cor.
O que importa
é que distinga a dualidade,
que nos
convide à reflexão.
Escrevi uma
prosopopeia,
um discurso
veemente,
um murro
visual, que qualquer um entende...
ou penso eu
que entende...
que isto de
pensar pelos outros
também tem
os seus quês...
e os seus
porquês...
mas como,
considero eu, que é tão simples
nem me passa
pela cabeça que não entendam...
só se não
quizerem entender...
e, afinal,
talvez haja quem
não queira
entender...
ou não lhe
interesse entender...
que essa
coisa do interesse também tem muito que se lhe diga..
no melhor
desinteresse cai a nódoa...
a gente sabe
que assim é, há muito, talvez desde sempre...
Mas, e
afinal, a dualidade do dilema?
Que se lixe !
Passa a
dividir-se em duas unicidades
e cada um
utiliza como quer...
2020
Miguel Gomes Coelho
(joãoolhosnomar.blogspot.com)
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
Cadeia
de União
...
E um dia alguém também dirá
que aqui nos reunimos.
Não dirá nomes, apenas
que aqui estivemos de mãos
dadas, de olhos fechados ou de cabeça inclinada em sinal de
recolhimento.
Alguém um
dia também dirá que aqui nos continuou e nos fez permanecer na
memória desta sala, através das mesmas mãos dadas, com força,
unidas, daqueles que nos sucederam.
Que mantenhamos os nossos corpos os fortes troncos e os nossos braços os fortes ramos, as nossas mãos as hastes finas que se entrelaçam com as das árvores que nos ladeiam, e fazendo correr entre si a seiva/pensamento já tão antiga daqueles que aqui estiveram antes de nós, façamos, através dos novos frutos e novas sementes, perpetuar o futuro daquilo em que acreditamos – um Homem nobre, livre e de bons costumes, que derrote a soberba, o egoísmo e a desigualdade e faça a solidariedade vencer porque os outros são o nosso destino e a Fraternidade a razão de ser da nossa própria construção.
2016
Miguel Gomes Coelho
(joaoolhosnomar.blogspot.com)
quarta-feira, 20 de novembro de 2019
Os túneis do labirinto
Na verdade, sou a minha
descoberta
rastreando os túneis do
meu próprio labirinto e
nos olhos dos outros
o que em mim mais não
consigo descobrir.
Mesmo convivendo com a
mágoa
que se aninha na cama do
frio espanto
sou a mão que rebusca no
meio das vísceras
o que sobra além da carne
e dos ossos.
(joaoolhosnomar@blogspot.com)
(joaoolhosnomar@blogspot.com)
quarta-feira, 23 de outubro de 2019
Sobre o eco das palavras
À Conceição Lima, em jeito de homenagem no oitavo ano do "A Hora da Poesia".
O agradecimento nunca é vão.
(http://joaoolhosnomar.blogspot.com/)
O agradecimento nunca é vão.
Sobre o eco das palavras
Não aproximes o teu
ouvido da minha boca
que as minhas palavras não
são de veludo
nem perscrutes o meu olhar
não vás encontrar duas
gargantas alcantiladas
repletas de espinhos que
ferem ou de lâminas de escoriar.
Nós que nos queríamos preparados para tudo,
Nós que nos queríamos preparados para tudo,
o tudo que aparecesse
mesmo que atiçado
por um fole de sofrimento,
afinal não soubemos pesar
a realidade e
deixámos que todas as
aves rituais voassem sem regresso
e todos os predadores
terrenos caçassem
no nosso mais apetecido
futuro.
E ficou-nos a amargura da
nossa própria
incapacidade de vozes sem eco.
Os nossos caminhos
fazem-nos doer os passos
e nas mãos os dedos
encarquilhados
impedem-nos os gestos
recordando antigas fobias
quando as escondiamos
dentro dos bolsos.
(http://joaoolhosnomar.blogspot.com/)
quarta-feira, 2 de outubro de 2019
Das dunas
Recolho uma joaninha nos chorões
das dunas.
Vermelha e negra.
Vermelha e negra.
Frágil. Muito frágil.
E recordo imagens e tempos.
Também existem dunas no tempo e
chorões que as mantêm
e fazem frente ao vento e às
vagas
que nos marcam os dias.
Dias, muitos, passados a olhar o mar,
Dias, muitos, passados a olhar o mar,
a imensidão até ao horizonte
que nos escapa,
permanentemente.
E a joaninha percorre os meus dedos num redopiar sem fim.
Cansada do labirinto do jogo
abre as asas e parte e não
consigo segui-la com o olhar
de tão pequena e frágil que se
mistura com a natureza sem deixar rasto.
Ao contrário de mim a joaninha
não tem recordações
nem pensa voltar ao meu
labirinto.
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
O forno do pão
Olho o forno do pão
e acredito que para muitos pode
parecer um altar.
Será um sacrifício a sua abertura,
Será um sacrifício a sua abertura,
o seu cheiro,
a perspectiva do saciar da fome.
O que não fará um ser com fome ?
Até será capaz de rezar.
terça-feira, 17 de setembro de 2019
Crisântemos e miosótis
acordar numa manhã pintada de crisântemos
com o cheiro doce da terra ensopada da nebelina,
como adormecer no recato da mais profunda gruta
olhando a ternura das gotas que escorrem
lambendo a pedra húmida
como pequenas pérolas cadentes
daquele céu de pedra.
como adormecer no recato da mais profunda gruta
olhando a ternura das gotas que escorrem
lambendo a pedra húmida
como pequenas pérolas cadentes
daquele céu de pedra.
Em recantos dos caminhos
nascem espontaneamente miosótis;
o Sol cria a luz e a sombra que nos ampara
e as núvens, além de nós,
o branco e o cinzento dos dias.
Daqueles pequenos sóis azuis, além do belo,
apenas a recusa do esquecimento.
Sentem-se risos de criança e sorrisos tardios de velhos.
Tudo nos recorda desejos de vida.
Negam-se olhares de soslaio,
as portas estão abertas e não há sinais de respiração ofegante
mas existem sinais de gente.
Uma amena música soprada pelo vento
afaga-nos os sentidos.
Seria belo assim o nascer e o entardecer.
Ao certo
apenas sabemos que os miosótis ciclicamente irão murchar
e o caminho será novamente escuro e sem memória
até que voltem a nascer espontâneamente
e a beleza e a recordação recuperadas.
Miguel Gomes Coelho
segunda-feira, 16 de setembro de 2019
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
Encontrar-nos-emos no campo das
mágoas
onde se plantam gritos de
desventura
e se abatem as árvores do
desejo.
Construiremos um novo relógio
que não meça o tempo
apenas nos diga quantas feridas
existem
e quantas faltarão para o
embarque final.
Aí, daremos as mãos, fecharemos os olhos
Aí, daremos as mãos, fecharemos os olhos
e aguardaremos o remédio dos
dias.
Até ao fim. Até ao fim.
Até ao fim. Até ao fim.
sexta-feira, 6 de setembro de 2019
Mediterraneo
As ondas que batiam
sob o casco duro
pontuavam o sentir da dor e do
medo,
os murmúrios rezados ,
o pasmo gritado face ao terror
naquela leva de morte
anunciada.
Outras, plenas de espuma,
Outras, plenas de espuma,
espraiavam-se junto à costa,
onde havia quem, torturando
mentes e corpos,
provocava a revolta à qual,
recusando o dano obsceno do
tráfico
ou a impiedade face ao ser
humano,
não viravamos as costas
esquecendo os grandes valores.
Dos mais felizes ficavam as pegadas
na areia molhada ou a recordação
na pedra dura dos cais,
mas muitos outros tinham já sucumbido
mas muitos outros tinham já sucumbido
ao fim silencioso e rápido
de quem naufraga num mar também feito de morte,
de quem naufraga num mar também feito de morte,
também feito de mágoa e de
memória .
Até Neptuno, se entristecia com tanta frieza.
Até Neptuno, se entristecia com tanta frieza.
Até eu, que não acredito em
deuses, me revolto e
acabo por ter dificuldade de
acreditar também nos homens.
domingo, 1 de setembro de 2019
Fim de tarde
O entardecer está calmo e sem
vento.
Do Sol apenas o reflexo do espelhado das janelas.
Até os pombos andam calmamente pelos passeios vazios.
Ecos de uma peça de música clássica assomam de uma janela entreaberta.
Numa varanda alguém lê um livro interessadamente.
Do Sol apenas o reflexo do espelhado das janelas.
Até os pombos andam calmamente pelos passeios vazios.
Ecos de uma peça de música clássica assomam de uma janela entreaberta.
Numa varanda alguém lê um livro interessadamente.
O Mundo está calmo por estes
lados.
É-se levado a não querer ouvir nem as notícias
É-se levado a não querer ouvir nem as notícias
não vá o diabo
tecê-las...
É-se criminosamente levado a esquecer o que se passa para lá da nossa rua.
É-se criminosamente levado a esquecer o que se passa para lá da nossa rua.
Hipocritamente,
fingimos que nos dói o peito
quando se sabe do sofrimento.
E na verdade dói de tanta hipocrisia.
E na verdade dói de tanta hipocrisia.
quarta-feira, 21 de agosto de 2019
Hora da Poesia - Rádio Vizela
www.mixcloud.com/Radiovizela/hora-da-poesia-entrevista-a-miguel-gomes-coelho-10072019/?fbclid=IwAR095cmi1MHhzKytias_ssHY3hooCm5P2TqODIjm7wqMVCSvvwpV-XiMQTs
sábado, 17 de agosto de 2019
A decisão de Quiron
No cruzamento dos caminhos
vagueio na companhia de Prometeu.
Também rebento cadeias, enfrento águias que me devoram,
Também rebento cadeias, enfrento águias que me devoram,
assolo fráguas que queimam e ofereço aos homens o fogo.
Recordo Quiron e até abdico da eternidade.
Continuam a existir Hidras de sangue venenoso.
Como Quiron, troco a eternidade pelo fim da dor.
Enfim, enfrento os deuses e torno-me homem.
Recordo Quiron e até abdico da eternidade.
Continuam a existir Hidras de sangue venenoso.
Como Quiron, troco a eternidade pelo fim da dor.
Enfim, enfrento os deuses e torno-me homem.
Miguel Gomes Coelho
sexta-feira, 30 de março de 2018
quarta-feira, 28 de março de 2018
Fado Zé Manel
sábado, 18 de junho de 2016
De resposta a um desafio...
"Si
le hubiera cortado las alas habría sido mío, no habría escapado.
Pero
así, habría dejado de ser pájaro y yo, yo lo que amaba, era el
pájaro."
Joxean
Artze.
Pedi-te
sempre que não olhasses para trás.
Tu
sabias que te queria demais,
na
totalidade, por dentro e por fora,
só
para mim e sem deixar nem um pouco para ti.
Tu
existias para que eu existisse
queria-te
sempre a voar ao meu redor,
era
eu o teu único destino...
Foi
apenas isto que te obriguei a interiorizar
por
isso , num equívoco, deixei-te esvoaçar
e
tu não voltaste, seguiste e cumpriste,
nem
olhaste para trás...
Aí, entendi como era falso...
Aí, entendi como era falso...
Descobri,
já só, que afinal eras tu o meu destino,
que
te amava por ti e apenas por ti.
Descobri
que as minhas mãos apenas têm dedos e não
tenazes e
os
meus braços apenas abraçam não agrilhoam;
o muito querer nem só tudo aceita, nem só tudo exige,
o muito querer nem só tudo aceita, nem só tudo exige,
o
amar é dar e aprender.
Agora...
só,
olhando
cada dia que nasce,
repondo
lá longe a linha do horizonte,
sejas
tu o Sol ou apenas o meu Sol,
espero
ansiosamente que inicies o teu voo de
regresso....
Miguel
Gomes Coelho
2016
domingo, 8 de março de 2015
A apresentação de José do Carmo Francisco
“O
Exemplo das Árvores”
de
Miguel Gomes Coelho
A
Poesia não é a voz do Mundo. E talvez nunca tenha sido ao longo do
Tempo e da História. Hoje a voz do Mundo é a morte, a escuridão e
o esquecimento. Pelo contrário, a Poesia é feita de luz, de vida e
de memória. Este livro também. Camilo Castelo Branco escreveu um
dia que «A Poesia não tem presente; ou é sonho ou saudade». E vem
a propósito lembrar o grande mestre da Literatura Portuguesa nascido
em Lisboa na Rua da Rosa em 1825. Se fosse vivo ele comentaria este
segundo livro deste autor com uma palavra muito do seu agrado – a
palavra cometer. Ora o autor deste livro «cometeu» em 1978 outro
livro com o título de «De coração na mão». Ou seja – a
Natureza e a Cultura lado a lado, tal acontece como no título deste
livro hoje em apreço – «O exemplo das árvores». Na verdade são
seis os capítulos deste livro de poemas mas, como acontece nos
livros de contos, o autor escolheu um dele para título do conjunto.
Neste caso é «O exemplo das árvores» que ocupa as páginas 11 até
18. Vejamos o poema inicial do capítulo: «Seja qual for o destino /
do voo das tuas mãos / lembra-te / e pensa maduramente / no exemplo
da árvores». Este advérbio de modo («maduramente») surge aqui
como valor enfático de uma reflexão. Ao longo dos séculos a Poesia
nunca hesitou em chamar as coisas pelos seus nomes mas tem oscilado
sempre entre a canção e a reflexão. Neste primeiro capítulo é a
reflexão que conta como por exemplo no poema da página 16: «Não
li uma linha / nem escrevi uma frase / mas tive um poema nos meus
braços / e declamei-o com toda a força do meu silêncio / não
fosse alguém quebrar-me o encantamento». Já em «Mar final» a
força está na reflexão sobre a viagem que é uma projecção da
vida. Começa na página 21 («Porque sempre se cantam as mães
/cantemos também a morte / que é a mãe do nada»), percorre a
página 23 («Apenas deixarei ficar / um último aceno / ninguém
mais se recordará desta barca / ou deste mareante») e conclui na
página 25: «Depois lancem as cinzas ao vento / e nele escrevam o
epitáfio. / Realiza-se assim o sonho seminal da morte / Nasce a
memória, talvez a saudade». A ligação entre esquecimento e morte
confirma-se na página 28: «Neste tempo que se liquefaz / e corre
célere num túnel de nevoeiro / o único destino é o esquecimento.»
O terceiro capítulo é «Com as mãos cheias de gente» permitindo
que o poema faça perguntas em voz alta e no colectivo: «De que
serviu, então, o passado? De que serviu ter as mãos cheias de gente
/ e o coração do tamanho do mundo? / De que serviu a promessa
jurada de um futuro / inteiro e limpo de braços encadeados / numa
marcha segura / o horizonte como destino / olhando em frente?»
Noutro poema se escreve o Natal de modo diferente: «É noite e as
estrelas estão lá em cima. / Uma criança nasce com a morte já
estampada nas faces (…) É assim o Natal no Darfour / e as mesmas
estrelas estão lá em cima». Por isso se pensa em Deus pela
negativa: «Se Deus existisse / as pedras lançadas em seu nome /
transformar-se-iam em água / saravam feridas, purificavam actos; /
mas Deus, se existiu, morreu / e não deixou testamento / nem
descendência». Em «Transparências» os poemas são breves entre
dois e cinco versos, concentrando a canção e a reflexão na mesma
temperatura como na página 52: «Nunca abras um espelho / nunca
queiras ver o que lhe ficou gravado na memória». O capítulo
«Diapositivos» reflecte no seu conjunto de seis andamentos poéticos
uma ideia ancorada no título do livro: A Natureza fornece a imagem,a
Cultura faz a sua apropriação por escrito e por extenso. A Poesia é
um vulcão que ainda não está extinto porque como na página 61 «De
uma furna onde / ainda esvoaçam emoções / renasce um tardio rio de
lava; / um espanto no entardecer / em que o sol se demora um pouco
mais / no aguardar da noite certa». Por fim em «Oldenburg» o livro
é uma linha paralela entre em dois poemas – «Nocturno» e
«Encontro em Oldenburg». A base é uma promessa («Disseste que me
ias trazer mais vida») e o ponto de chegada é um balanço. Dito de
outra maneira, trata-se aqui de um inventário qualificado. O poem
avisa o destinatário - «Quero ensinar-te tudo o que aprendi e / o
que descobri no vogar dos dias» - e mesmo na adversativa para o
destinatário- «Vais saber que as lágrimas / não caem só dos
olhos» - e também para o autor - «Andar pela vida não é fácil»
- o ponto a atingir fica dentro do enunciado do possível: «saber
que os homens podem ser / como as árvores». «O exemplo das
árvores» que dá título ao presente livro de poemas é o modelo
(breve embora) de tudo o que permanece apesar do desgaste e da
erosão. Porque as árvores dão aos homens o exemplo vivo e concreto
da ligação à terra e ao seu calendário de sementeira trabalhosa e
de colheita festiva. Os parvalhões que gritam ao telemóvel o brutal
e imperativo «Tázadonde?» nos bancos do autocarro, do eléctrico,
do elevador ou do Metro, são a voz do Mundo que fala alto e atropela
mas não são a voz da Poesia. Nem nunca serão eles, os que falam
alto, essa voz porque o seu som gritado se vai perder muito depressa
nas valetas do esquecimento enquanto a Poesia tem e terá sempre os
seus leitores, teimosos e heróicos, capazes de a invocar seja no
bulício da rua seja no silêncio dos corações. (Edição: Fólio
Exemplar, Capa e Paginação: Ana Nunes) --
Autoria e outros dados (tags, etc)
por José
do Carmo Francisco
às 13:49
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
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