terça-feira, 17 de setembro de 2019

Crisântemos e miosótis


Ainda tanto importa
acordar numa manhã pintada de crisântemos
com o cheiro doce da terra ensopada da nebelina,
como adormecer no recato da mais profunda gruta
olhando a ternura das gotas que escorrem
lambendo a pedra húmida
como pequenas pérolas cadentes
daquele céu de pedra.

Em recantos dos caminhos
nascem espontaneamente miosótis;
o Sol cria a luz e a sombra que nos ampara
e as núvens, além de nós,
o branco e o cinzento dos dias.
Daqueles pequenos sóis azuis, além do belo,
apenas a recusa do esquecimento.
Sentem-se risos de criança e sorrisos tardios de velhos.
Tudo nos recorda desejos de vida.

Negam-se olhares de soslaio,
as portas estão abertas e não há sinais de respiração ofegante
mas existem sinais de gente.
Uma amena música soprada pelo vento
afaga-nos os sentidos.
Seria belo assim o nascer e o entardecer.

Ao certo
apenas sabemos que os miosótis ciclicamente irão murchar
e o caminho será novamente escuro e sem memória
até que voltem a nascer espontâneamente
e a beleza e a recordação recuperadas.

Miguel Gomes Coelho

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