sexta-feira, 6 de setembro de 2019


Mediterraneo

As ondas que batiam
sob o casco duro
pontuavam o sentir da dor e do medo,
os murmúrios rezados ,
o pasmo gritado face ao terror
naquela leva de morte anunciada.

Outras, plenas de espuma,
espraiavam-se junto à costa,
onde havia quem, torturando mentes e corpos,
provocava a revolta à qual,
recusando o dano obsceno do tráfico
ou a impiedade face ao ser humano,
não viravamos as costas
esquecendo os grandes valores.

Dos mais felizes ficavam as pegadas
na areia molhada ou a recordação na pedra dura dos cais,
mas muitos outros tinham já sucumbido
ao fim silencioso e rápido
de quem naufraga num mar também feito de morte,
também feito de mágoa e de memória .

Até Neptuno, se entristecia com tanta frieza.

Até eu, que não acredito em deuses, me revolto e
acabo por ter dificuldade de acreditar também nos homens.

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