sábado, 1 de outubro de 2022

domingo, 17 de maio de 2020

Poesia de Autor VIII

quarta-feira, 22 de abril de 2020

domingo, 22 de março de 2020


  

Acabei de escrever sobre um dilema...
e utilizei muitas cores...
Lá por ser sombrio não quer dizer que não tenha cor.
O que importa é que distinga a dualidade,
que nos convide à reflexão.

Escrevi uma prosopopeia,
um discurso veemente,
um murro visual, que qualquer um entende...
ou penso eu que entende...
que isto de pensar pelos outros
também tem os seus quês...
e os seus porquês...
mas como, considero eu, que é tão simples
nem me passa pela cabeça que não entendam...
só se não quizerem entender...
e, afinal, talvez haja quem
não queira entender...
ou não lhe interesse entender...
que essa coisa do interesse também tem muito que se lhe diga..
no melhor desinteresse cai a nódoa...
a gente sabe que assim é, há muito, talvez desde sempre...

Mas, e afinal, a dualidade do dilema?
Que se lixe !
Passa a dividir-se em duas unicidades
e cada um utiliza como quer...

2020

Miguel Gomes Coelho
(joãoolhosnomar.blogspot.com)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Cadeia de União



...

E um dia alguém também dirá que aqui nos reunimos. 
Não dirá nomes, apenas
que aqui estivemos de mãos dadas, de olhos fechados ou de cabeça inclinada em sinal de recolhimento.
Alguém um dia também dirá que aqui nos continuou e nos fez permanecer na memória desta sala, através das mesmas mãos dadas, com força, unidas, daqueles que nos sucederam.

Que mantenhamos os nossos corpos os fortes troncos e os nossos braços os fortes ramos, as nossas mãos as hastes finas que se entrelaçam com as das árvores que nos ladeiam, e fazendo correr entre si a seiva/pensamento já tão antiga daqueles que aqui estiveram antes de nós, façamos, através dos novos frutos e novas sementes, perpetuar o futuro daquilo em que acreditamos – um Homem nobre, livre e de bons costumes, que derrote a soberba, o egoísmo e a desigualdade e faça a solidariedade vencer porque os outros são o nosso destino e a Fraternidade a razão de ser da nossa própria construção.

2016

Miguel Gomes Coelho
(joaoolhosnomar.blogspot.com)

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

 Resultado de imagem para labirinto


Os túneis do labirinto


Na verdade, sou a minha descoberta
rastreando os túneis do meu próprio labirinto e
nos olhos dos outros
o que em mim mais não consigo descobrir.
Mesmo convivendo com a mágoa
que se aninha na cama do frio espanto
sou a mão que rebusca no meio das vísceras
                  o que sobra além da carne e dos ossos.

(joaoolhosnomar@blogspot.com)

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Sobre o eco das palavras

À Conceição Lima, em jeito de homenagem no oitavo ano do "A Hora da Poesia".
O agradecimento nunca é vão.



Sobre o eco das palavras


Não aproximes o teu ouvido da minha boca
que as minhas palavras não são de veludo
nem perscrutes o meu olhar
não vás encontrar duas gargantas alcantiladas
repletas de espinhos que ferem ou de lâminas de escoriar.

Nós que nos queríamos preparados para tudo,
o tudo que aparecesse mesmo que atiçado
por um fole de sofrimento,
afinal não soubemos pesar a realidade e
deixámos que todas as aves rituais voassem sem regresso
e todos os predadores terrenos caçassem
no nosso mais apetecido futuro.

E ficou-nos a amargura da
nossa própria incapacidade de vozes sem eco.

Os nossos caminhos fazem-nos doer os passos
e nas mãos os dedos encarquilhados
impedem-nos os gestos
recordando antigas fobias
quando as escondiamos dentro dos bolsos.

(http://joaoolhosnomar.blogspot.com/)

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Das dunas

Recolho uma joaninha nos chorões das dunas.
Vermelha e negra.
Frágil. Muito frágil.
E recordo imagens e tempos.
Também existem dunas no tempo e chorões que as mantêm
e fazem frente ao vento e às vagas
que nos marcam os dias.
Dias, muitos, passados a olhar o mar,
a imensidão até ao horizonte que nos escapa,
permanentemente.

E a joaninha percorre os meus dedos num redopiar sem fim.
Cansada do labirinto do jogo
abre as asas e parte e não consigo segui-la com o olhar
de tão pequena e frágil que se mistura com a natureza sem deixar rasto.
Ao contrário de mim a joaninha não tem recordações
nem pensa voltar ao meu labirinto.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O forno do pão



Olho o forno do pão
e acredito que para muitos pode parecer um altar.
Será um sacrifício a sua abertura,
o seu cheiro,
a perspectiva do saciar da fome.

O que não fará um ser com fome ?
Até será capaz de rezar.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Crisântemos e miosótis


Ainda tanto importa
acordar numa manhã pintada de crisântemos
com o cheiro doce da terra ensopada da nebelina,
como adormecer no recato da mais profunda gruta
olhando a ternura das gotas que escorrem
lambendo a pedra húmida
como pequenas pérolas cadentes
daquele céu de pedra.

Em recantos dos caminhos
nascem espontaneamente miosótis;
o Sol cria a luz e a sombra que nos ampara
e as núvens, além de nós,
o branco e o cinzento dos dias.
Daqueles pequenos sóis azuis, além do belo,
apenas a recusa do esquecimento.
Sentem-se risos de criança e sorrisos tardios de velhos.
Tudo nos recorda desejos de vida.

Negam-se olhares de soslaio,
as portas estão abertas e não há sinais de respiração ofegante
mas existem sinais de gente.
Uma amena música soprada pelo vento
afaga-nos os sentidos.
Seria belo assim o nascer e o entardecer.

Ao certo
apenas sabemos que os miosótis ciclicamente irão murchar
e o caminho será novamente escuro e sem memória
até que voltem a nascer espontâneamente
e a beleza e a recordação recuperadas.

Miguel Gomes Coelho

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

O mensageiro do tempo


de Miguel Gomes Coelho

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Ante



Encontrar-nos-emos no campo das mágoas
onde se plantam gritos de desventura
e se abatem as árvores do desejo.
Construiremos um novo relógio
que não meça o tempo
apenas nos diga quantas feridas existem
e quantas faltarão para o embarque final.
Aí, daremos as mãos, fecharemos os olhos
e aguardaremos o remédio dos dias.
Até ao fim. Até ao fim.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019


Mediterraneo

As ondas que batiam
sob o casco duro
pontuavam o sentir da dor e do medo,
os murmúrios rezados ,
o pasmo gritado face ao terror
naquela leva de morte anunciada.

Outras, plenas de espuma,
espraiavam-se junto à costa,
onde havia quem, torturando mentes e corpos,
provocava a revolta à qual,
recusando o dano obsceno do tráfico
ou a impiedade face ao ser humano,
não viravamos as costas
esquecendo os grandes valores.

Dos mais felizes ficavam as pegadas
na areia molhada ou a recordação na pedra dura dos cais,
mas muitos outros tinham já sucumbido
ao fim silencioso e rápido
de quem naufraga num mar também feito de morte,
também feito de mágoa e de memória .

Até Neptuno, se entristecia com tanta frieza.

Até eu, que não acredito em deuses, me revolto e
acabo por ter dificuldade de acreditar também nos homens.

Tertulia "À Margem" , em 4.9.2019, 
apresentação da Poesia de Miguel Gomes Coelho.

A imagem pode conter: Miguel Gomes Coelho

domingo, 1 de setembro de 2019

Fim de tarde

O entardecer está calmo e sem vento.
Do Sol apenas o reflexo do espelhado das janelas.
Até os pombos andam calmamente pelos passeios vazios.
Ecos de uma peça de música clássica assomam de uma janela entreaberta.
Numa varanda alguém lê um livro interessadamente.
O Mundo está calmo por estes lados.
É-se levado a não querer ouvir nem as notícias
não vá o diabo tecê-las...
É-se criminosamente levado a esquecer o que se passa para lá da nossa rua.
Hipocritamente,
fingimos que nos dói o peito quando se sabe do sofrimento.
E na verdade dói de tanta hipocrisia.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Hora da Poesia - Rádio Vizela

www.mixcloud.com/Radiovizela/hora-da-poesia-entrevista-a-miguel-gomes-coelho-10072019/?fbclid=IwAR095cmi1MHhzKytias_ssHY3hooCm5P2TqODIjm7wqMVCSvvwpV-XiMQTs

sábado, 17 de agosto de 2019




A decisão de Quiron

No cruzamento dos caminhos
vagueio na companhia de Prometeu.
Também rebento cadeias, enfrento águias que me devoram,
assolo fráguas que queimam e ofereço aos homens o fogo.
Recordo Quiron e até abdico  da eternidade.
Continuam a existir Hidras de sangue venenoso.
Como Quiron, troco a eternidade pelo fim da dor.
Enfim, enfrento os deuses e torno-me homem.
Miguel Gomes Coelho

sexta-feira, 30 de março de 2018

Mãos nuas


Umas mãos nuas
não são sinónimo de vazias.

Vazias são as cabeças
que têm mãos vazias.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Fado Zé Manel

O José Manuel Barreto gostou de uns versos meus;
o Pedro Pinhal escreveu a música .
Assim apareceu o Fado Zé Manel.
Espero que gostem.



sábado, 18 de junho de 2016

De resposta a um desafio...

"Si le hubiera cortado las alas habría sido mío, no habría escapado.
Pero así, habría dejado de ser pájaro y yo, yo lo que amaba, era el pájaro."

Joxean Artze.




Pedi-te sempre que não olhasses para trás.
Tu sabias que te queria demais,
na totalidade, por dentro e por fora,
só para mim e sem deixar nem um pouco para ti.
Tu existias para que eu existisse
queria-te sempre a voar ao meu redor,
era eu o teu único destino...

Foi apenas isto que te obriguei a interiorizar
por isso , num equívoco, deixei-te esvoaçar
e tu não voltaste, seguiste e cumpriste,
nem olhaste para trás...
Aí, entendi como era falso...
Descobri, já só, que afinal eras tu o meu destino,
que te amava por ti e apenas por ti.
Descobri que as minhas mãos apenas têm dedos e não tenazes e
os meus braços apenas abraçam não agrilhoam;
o muito querer nem só tudo aceita, nem só tudo exige,
o amar é dar e aprender.

Agora...
só,
olhando cada dia que nasce,
repondo lá longe a linha do horizonte,
sejas tu o Sol ou apenas o meu Sol,
espero ansiosamente que inicies o teu voo de regresso....


Miguel Gomes Coelho
2016

domingo, 8 de março de 2015

A apresentação de José do Carmo Francisco

O Exemplo das Árvores”
de Miguel Gomes Coelho
A Poesia não é a voz do Mundo. E talvez nunca tenha sido ao longo do Tempo e da História. Hoje a voz do Mundo é a morte, a escuridão e o esquecimento. Pelo contrário, a Poesia é feita de luz, de vida e de memória. Este livro também. Camilo Castelo Branco escreveu um dia que «A Poesia não tem presente; ou é sonho ou saudade». E vem a propósito lembrar o grande mestre da Literatura Portuguesa nascido em Lisboa na Rua da Rosa em 1825. Se fosse vivo ele comentaria este segundo livro deste autor com uma palavra muito do seu agrado – a palavra cometer. Ora o autor deste livro «cometeu» em 1978 outro livro com o título de «De coração na mão». Ou seja – a Natureza e a Cultura lado a lado, tal acontece como no título deste livro hoje em apreço – «O exemplo das árvores». Na verdade são seis os capítulos deste livro de poemas mas, como acontece nos livros de contos, o autor escolheu um dele para título do conjunto. Neste caso é «O exemplo das árvores» que ocupa as páginas 11 até 18. Vejamos o poema inicial do capítulo: «Seja qual for o destino / do voo das tuas mãos / lembra-te / e pensa maduramente / no exemplo da árvores». Este advérbio de modo («maduramente») surge aqui como valor enfático de uma reflexão. Ao longo dos séculos a Poesia nunca hesitou em chamar as coisas pelos seus nomes mas tem oscilado sempre entre a canção e a reflexão. Neste primeiro capítulo é a reflexão que conta como por exemplo no poema da página 16: «Não li uma linha / nem escrevi uma frase / mas tive um poema nos meus braços / e declamei-o com toda a força do meu silêncio / não fosse alguém quebrar-me o encantamento». Já em «Mar final» a força está na reflexão sobre a viagem que é uma projecção da vida. Começa na página 21 («Porque sempre se cantam as mães /cantemos também a morte / que é a mãe do nada»), percorre a página 23 («Apenas deixarei ficar / um último aceno / ninguém mais se recordará desta barca / ou deste mareante») e conclui na página 25: «Depois lancem as cinzas ao vento / e nele escrevam o epitáfio. / Realiza-se assim o sonho seminal da morte / Nasce a memória, talvez a saudade». A ligação entre esquecimento e morte confirma-se na página 28: «Neste tempo que se liquefaz / e corre célere num túnel de nevoeiro / o único destino é o esquecimento.» O terceiro capítulo é «Com as mãos cheias de gente» permitindo que o poema faça perguntas em voz alta e no colectivo: «De que serviu, então, o passado? De que serviu ter as mãos cheias de gente / e o coração do tamanho do mundo? / De que serviu a promessa jurada de um futuro / inteiro e limpo de braços encadeados / numa marcha segura / o horizonte como destino / olhando em frente?» Noutro poema se escreve o Natal de modo diferente: «É noite e as estrelas estão lá em cima. / Uma criança nasce com a morte já estampada nas faces (…) É assim o Natal no Darfour / e as mesmas estrelas estão lá em cima». Por isso se pensa em Deus pela negativa: «Se Deus existisse / as pedras lançadas em seu nome / transformar-se-iam em água / saravam feridas, purificavam actos; / mas Deus, se existiu, morreu / e não deixou testamento / nem descendência». Em «Transparências» os poemas são breves entre dois e cinco versos, concentrando a canção e a reflexão na mesma temperatura como na página 52: «Nunca abras um espelho / nunca queiras ver o que lhe ficou gravado na memória». O capítulo «Diapositivos» reflecte no seu conjunto de seis andamentos poéticos uma ideia ancorada no título do livro: A Natureza fornece a imagem,a Cultura faz a sua apropriação por escrito e por extenso. A Poesia é um vulcão que ainda não está extinto porque como na página 61 «De uma furna onde / ainda esvoaçam emoções / renasce um tardio rio de lava; / um espanto no entardecer / em que o sol se demora um pouco mais / no aguardar da noite certa». Por fim em «Oldenburg» o livro é uma linha paralela entre em dois poemas – «Nocturno» e «Encontro em Oldenburg». A base é uma promessa («Disseste que me ias trazer mais vida») e o ponto de chegada é um balanço. Dito de outra maneira, trata-se aqui de um inventário qualificado. O poem avisa o destinatário - «Quero ensinar-te tudo o que aprendi e / o que descobri no vogar dos dias» - e mesmo na adversativa para o destinatário- «Vais saber que as lágrimas / não caem só dos olhos» - e também para o autor - «Andar pela vida não é fácil» - o ponto a atingir fica dentro do enunciado do possível: «saber que os homens podem ser / como as árvores». «O exemplo das árvores» que dá título ao presente livro de poemas é o modelo (breve embora) de tudo o que permanece apesar do desgaste e da erosão. Porque as árvores dão aos homens o exemplo vivo e concreto da ligação à terra e ao seu calendário de sementeira trabalhosa e de colheita festiva. Os parvalhões que gritam ao telemóvel o brutal e imperativo «Tázadonde?» nos bancos do autocarro, do eléctrico, do elevador ou do Metro, são a voz do Mundo que fala alto e atropela mas não são a voz da Poesia. Nem nunca serão eles, os que falam alto, essa voz porque o seu som gritado se vai perder muito depressa nas valetas do esquecimento enquanto a Poesia tem e terá sempre os seus leitores, teimosos e heróicos, capazes de a invocar seja no bulício da rua seja no silêncio dos corações. (Edição: Fólio Exemplar, Capa e Paginação: Ana Nunes) --

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por José do Carmo Francisco às 13:49

Lançamento de "O Exemplo das Árvores"


Foi um belo fim de tarde.
Poesia e amigos, um conjunto insuperável.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015